Os rastreios que a GDA e a Fundação GDA irão desenvolver antes e depois do Dia Mundial da Voz, a 16 de abril, vão ter este ano protagonistas adicionais: os artistas transgénero, cuja presença na música e nos espetáculos de palco em Portugal saltou para a ribalta no início de 2023. A mudança de sexo, quer pelas intervenções cirúrgicas inerentes, quer pelos tratamentos hormonais, tem impacto na voz profissional, devendo por isso estar ao dispor dos atores e dos cantores os meios clínicos indispensáveis para adaptar este seu instrumento de trabalho à nova identidade.

Para além desta especificidade, os rastreios mantêm-se abertos a todos os artistas.

“Se há um tratamento indispensável, e que tem de ser totalmente personalizado, é o da adaptação da voz profissional de um artista transgénero”, afirma Clara Capucho, otorrinolaringologista especializada na voz artística, coordenadora Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Segundo a especialista, que há mais de uma década organiza os rastreios da voz artística com a Fundação GDA, o ator ou a cantora que tenham mudado de sexo têm de ser acompanhados por uma equipa multidisciplinar no processo de escolha e decisão quanto ao tipo de voz, timbre e extensão que querem passar a ter.

“Há desde logo que avaliar os resultados da terapia hormonal, bem como a conformação da laringe de cada artista, para além das caraterísticas de voz que ele ou ela desejam ter”, afirma Clara Capucho que, ao longo de 2022, realizou várias cirurgias em Hamburgo com o laringologista e fonocirurgião   alemão Makus Hess, especialista em feminização da voz. “São cirurgias muito específicas, as quais nuns casos implicam esticar as cordas vocais, noutros casos encurtá-las”.

No Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, a que pertence o Hospital Egas Moniz, estas cirurgias serão desenvolvidas dentro do protocolo existente: este implica triagem prévia na consulta de sexologia/psiquiatria e a posterior colaboração com várias especialidades, entre as quais endocrinologia, assim como professores de canto e terapeutas da fala que trabalhem com os artistas ao longo do processo. “Estes são recursos que existem na Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz”, afirma a sua coordenadora, Clara Capucho. “Estamos a organizar-nos para, neste ano 2023, passarmos a ter consultas de voz para transgéneros”.

A otorrinolaringologista alerta que todos os cuidados a ter com os artistas transgénero adultos devem aumentar no caso dos adolescentes: “Com os artistas mais jovens a voz muda e evolui durante anos até estes se tornarem adultos”, afirma Clara Capucho. “O processo de escolha e de adaptação de voz deve ser muito ponderado e seguro”.

Novas técnicas na mudança de voz nos artistas transgénero

Na semana em que assinala o Dia Mundial da Voz, a 16 de abril, a GDA, a Fundação GDA e o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental – onde se inclui a Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz – irão promover, entre 10 e 14 de abril, rastreios da voz gratuitos dirigidos à comunidade artística (mas também abertos à população) para despistar os casos mais graves.

Estes rastreios decorrerão na Unidade da Voz do Hospital Egas Moniz entre as 9h00 e as 16h00, os artistas que queiram participar poderão fazê-lo através do preenchimento de um formulário aqui, que servirá apenas de registo. A marcação será efetivada pela equipa da Unidade da Voz mediante contacto prévio com os interessados, após validação e seleção.

“Num período de progressivo crescimento do número de espetáculos em Portugal, é fundamental que todos os artistas que usam a voz como instrumento profissional tenham cuidados acrescidos”, afirma Luís Sampaio, vice-presidente da GDA.

“A GDA apela à comunidade artística para participar neste rastreio coordenado pela Professora Clara Capucho. Este rastreio, para além de detetar eventuais patologias, é, também, um momento em que são aconselhados exercícios vocais para manter a voz saudável e apta para as exigências do mercado de trabalho”.

Para assinalar o Dia Mundial da Voz 2023 – 16 de abril, domingo – está previsto um intenso programa de iniciativas dedicadas à voz artística nas semanas ao redor da data, organizadas pela DraVOZ com o apoio da Fundação GDA. Para além do rastreio no Hospital Egas Moniz, no dia 15 de abril terá lugar um espetáculo na Academia de Artes do Estoril (Cruzeiro) que contará com artistas como Paulo de Carvalho, Paulo Gonzo, Fábia Rebordão, Jorge Fernando, Emanuel, Miguel Gameiro, Eurico Lopes, entre outros.

No Dia Mundial da Voz, 16 de abril, realiza-se um espetáculo em Évora, no Teatro Garcia Resende, onde atuarão José Cid, Vitorino, Miguel Gameiro, Paula Marcelo, Grupos de Cantares de Évora e Monsaraz, Orquestra Juvenil, alunos orientados pelas professoras Joana Espadinha e Liliana Bizineche da Escola de Artes da Universidade de Évora, entre outros.