Vaiapraia

 

O título do segundo LP de Vaiapraia – 100% Carisma – surgiu antes do disco por reflectir o humor (tanto no sentido de “estado de espírito” como em “espírito cómico”) que Rodrigo Vaiapraia queria explorar em temáticas como o desconcerto e a falha, a fome vs. o apetite, a insatisfação, e a autoficção enquanto pessoa queer.
Estes temas surgem não só como uma catarse, à semelhança de 1755 (2016, Spring Toast Records), mas agora também de anotações e construções mais digeridas.
Neste sentido, 100% Carisma é mais uma maratona que um sprint, analogia também aplicável à exploração sonora mais variada e elástica. O que não demonstra um divórcio com o passado: desde 1755, os concertos foram uma experiência formativa para o carácter destas canções. Se o primeiro LP de alguma forma reproduz em estúdio o que acontece em palco, 100% Carisma assume a minuciosidade na produção face à impossibilidade de emular plenamente em disco a performance.
Dessa experiência formativa, a vontade de juntar pessoas será a mais tangível: na composição dos arranjos, na interpretação, e na produção. “100% Carisma” foi produzido e misturado por Adriano Cintra (Cansei de Ser Sexy) e com a gravação de Luís Severo nos estúdios da Cuca Monga, sendo que ambos se juntaram a Vaiapraia e à banda (Ana Farinha na bateria, Francisca Ribeiro na guitarra e Daniel Fonseca no baixo) na composição dos arranjos. Inclui também a participação especial de Lora Logic (X-Ray Spex e Red Krayola) e João Abelaira Nascimento. Vaiapraia dedica “100% Carisma” a Ana da Silva e Shirley O’Laughlin das The Raincoats. A dedicatória não é só afectuosa: todo o trabalho de Vaiapraia almeja uma genealogia política e artística do punk e dos feminismos, que é a bicha do leme destas canções.

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