Mesa

 

Muita coisa mudou para os MESA desde 2003. Um percurso heterogéneo, onde a constante é a mudança sónica e temática; uma insatisfação permanente em relação ao passado, a ânsia por construir algo novo e excitante.
Em 2003, o disco homónimo MESA criou ondas de choque através de um intrincado experimentalismo sonoro, inspirado por vezes no som de Bristol, revestindo canções e tornando-as acessíveis a um público diversificado, como por exemplo em “Luz Vaga”, posteriormente regravada em dueto com Rui Reininho.
Em 2005 é lançado Vitamina, um disco onde os MESA tentavam expandir o seu universo na escrita de canções. Assaltando os anos 80 em temas como “Vício de Ti”, mostravam que não era necessário recorrer aos cânones da pop simplista para escrever canções de “largo espectro”. É com Vitamina que vemos surgir alguns denominadores comuns que acompanham os MESA até hoje: o amor pelo formato canção, a sua constante reinvenção e a sua recusa categórica de se colar a um rótulo. Eludindo sempre todas as tentativas de uma era pródiga em conteúdos formatados para catalogar o seu som, os MESA sempre viveram do frágil equilíbrio entre o apelo da musica popular e a necessidade intrínseca em a subverter. Assim aconteceu com “Para todo o mal” (2008) e “Automático” (2011), onde através de “Cedo o meu lugar” escrevem o tema quiçá com maior visibilidade até então. A canção foi um exercício de estilo, uma prova de que se quisessem escrever canções simples e diretas o poderiam fazer. Fruto de uma procura em revestir os temas de uma instrumentação menos eletrónica e, simultaneamente menos utilizada, em Pés que Sonham ser Cabeças (2013) o caminho foi outro. Influenciados pela direção de temas anteriores (como “Sequela” ou “Deixa cair o Inverno”) é notório o recurso a cordas não só como complemento instrumental, mas como espinha dorsal na construção
dos temas. “Sinto”, “Máquinas em Construção”, “Noite de Bruxas” e “Emocional” são disso os
melhores exemplos. Com estes 5 discos na bagageira, os MESA chegam a 2015 com vontade de tornar a reinventar a sua identidade sonora. Com a ideia base de atravessar 6 décadas de música criando um todo coerente, entram em estúdio com diferentes técnicas em mente, fazendo dele, mais um elemento da banda. Cedo chegam à conclusão que o Inglês seria a língua ideal para que os temas ganhassem a coerência necessária: a língua com instrumento de Produção Musical. O primeiro tema a ganhar forma e a ditar os passos a seguir foi “Asteroid”, lançado em Junho de 2015. Foi um teste sobre a aceitação quer da direção musical, quer da língua cantada. E correu bem, muito bem. Nos meses seguintes mergulharam em estúdio para terminar o disco. São 12 novos temas, onde se podem ouvir influências de Tame Impala (“Sunny Point”), Black Keys (“The Cave”),
The Jesus and Mary Chain ou John Cale (“One of a Kind”), Goldfrapp (Helmet), Fela Kuti ou Bombino (“I’m used of Growing Old”) ou até Beatles (“While I wait for Tea”). O disco foi inteiramente gravado, tocado, misturado e produzido por João Pedro Coimbra no seu estúdio pessoal, com colaborações ocasionais de Alexandre Soares, Pedro Saraiva, Jorge Loura. Em Loner vemos também o estreitar da cumplicidade da dupla, com Rita Reis a assumir a escrita e as melodias de algumas das canções. É ouvir como tudo encaixa em redor da sua voz. Loner, fala do que é verdadeiramente importante para a dupla: amor, amizade, solidão, do próprio processo que é envelhecer e… de lugares mágicos. É um pequeno antídoto contra o que demais adverso encontramos na nossa vida. Estes MESA, com 6 discos na bagagem, parecem-se hoje, com um animal selvagem, que vai mudando a sua pele de tempos a tempos, aparecendo-nos hoje, com a sua transfiguração mais surpreendente e determinante. É que se contam pelos dedos os projetos com a capacidade de se manterem relevantes e os MESA já contam com mais uma década de historia nos anais da música feita em Portugal.

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