Nos primeiros meses de 2022 os cantores portugueses queixam-se mais do que os atores de desconforto vocal. Segundo um estudo que esteve em curso na Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, em parceria com a GDA, as principais queixas dos profissionais da voz artística são a secura das cordas vocais e a inflamação da garganta.
Os dados preliminares deste estudo feito a partir de uma amostra de 185 artistas cooperadores da GDA são divulgados neste Dia Mundial da Voz 2022. A responsável científica pelo tratamento e interpretação é Clara Capucho, otorrinolaringologista, coordenadora da Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Segundo a Drª Clara Capucho, médica especializada na voz artística, as queixas registadas são ainda uma consequência de mais de dois anos de pandemia da Covid-19.
“As consequências do uso prolongado e máscaras pelos profissionais da voz continuam a fazer-se sentir”, afirma Clara Capucho. “As máscaras reduzem a abertura normal da boca e, pela própria barreira que constituem, diminuem o teor de oxigénio dentro da cavidade bocal: essa menor oxigenação do aparelho vocal é responsável pela proliferação de fungos e de bactérias que, por serem anaeróbicas, crescem anormalmente sempre que há falta de oxigénio”.
A coordenadora da Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz colabora com a GDA na promoção da saúde vocal dos artistas.
“Beber água mais vezes” e “tirar a máscara sempre que possível”
“Os artistas devem esforçar-se por retirar as máscaras sempre que isso não signifique um risco para eles ou para os outros”, afirma Clara Capucho. “Para além disso, devem preocupar-se em beber água mais vezes e hidratar as cordais vocais, uma vez que as máscaras reduzem o teor de humidade da boca e constituem, por si só, uma barreira que faz com que as pessoas bebam água menos vezes por dia”.
Esta semana, no decorrer do Rastreio da Voz Artística que a GDA promove todos os anos por ocasião do Dia Mundial da Voz, Clara Capucho já tinha alertado para os défices de performance de voz que, fruto dos confinamentos impostos pela pandemia da Covid-19, os músicos cantores e os atores portugueses estão a sentir no regresso aos palcos desta primavera.
“Estamos a acompanhar artistas que, entre muitos espetáculos que estão a dar, se debatem com alguns problemas de desempenho da voz”, afirma Clara Capucho. “Os músculos dos aparelhos vocais dos profissionais da voz estiveram inativos durante muito tempo, usaram máscaras durante períodos prolongados e, alguns deles, desenvolveram patologias que têm de ser tratadas e acompanhadas”.
A otorrinolaringologista recorda que é muito importante que os artistas vão ao médico regularmente verificar a saúde do seu aparelho vocal.
A divulgação dos dados preliminares deste estudo são a principal iniciativa com que a GDA irá assinalar o Dia Mundial da Voz 2022, que se celebra hoje, dia 16 de abril. O lema deste dia este ano em Portugal é “Ergue a tua Voz”.