Segundo a otorrinolaringologista Clara Capucho, consultora da Fundação GDA para a área da saúde vocal, “o número de pacientes com disfonia por tensão muscular está a aumentar desde março de 2020”.
O uso de máscaras imposto pela pandemia da Covid-19 aumentou o número de patologias da voz, sobretudo nos aparelhos vocais dos artistas. Este é o diagnóstico da especialista em voz artística, que nos últimos meses tem atendido cada vez mais cantores e atores com problemas de disfonia – dificuldade para emitir a voz, rouquidão, falta de volume e projeção, etc. A ansiedade provocada pelo confinamento e a postura corporal em frente ao computador são outros dos fatores que contribuíram para o agravamento da saúde vocal.
Dado que a voz é o principal instrumento de trabalho dos artistas, a Unidade de Voz do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO), que esta médica coordena, e a Fundação GDA lançam um inquérito para avaliar o impacto da Covid-19 no desempenho da voz de atores e cantores.
A iniciativa visa assinalar o Dia Mundial da Voz 2021, 16 de abril, que este ano decorre sob o lema “Um mundo, muitas vozes”. A informação recolhida pelo inquérito será utilizada num estudo científico sobre o impacto da Covid-19 nos desempenhos vocais dos artistas.
“O número de pacientes diagnosticados com disfonia por tensão muscular tem aumentado desde março de 2020, quando as autoridades de saúde recomendaram o uso de máscaras como medida essencial para reduzir os riscos de contágio por Covid-19. Ainda que importantes para travar a propagação do vírus, a utilização de máscaras tem agravado as patologias associadas à voz”, afirma Clara Capucho, conhecida na comunidade artística como “Dra. Voz”.
O aumento do esforço para a emissão vocal, provocado pelas máscaras, a ansiedade e a má postura em frente ao computador, conduzem a uma tensão muscular na zona cervical, dos ombros e do próprio aparelho vocal, resultando muitas vezes numa disfonia por tensão muscular. “Essa tensão é tão intensa que, em certos casos, acarreta graves prejuízos vocais”, afirma.
Participe no inquérito ao desconforto vocal
Segundo Luís Sampaio, vice-presidente da GDA, “os artistas são severamente fustigados com os efeitos da pandemia da Covid-19, como a limitação das atividades culturais e o cancelamento de espetáculos. Apesar desta paragem, não podem descurar aquele que para muitos é o principal instrumento de trabalho: a voz!”, afirma. Para Luís Sampaio, é fundamental que os artistas tenham cuidados preventivos, identifiquem e tratem patologias do aparelho vocal, mantendo-o apto para as exigências que o regresso do seu uso profissional no pós-pandemia irá colocar”.
O questionário online para avaliar os níveis do desconforto vocal dos cantores e autores está a ser enviado aos cooperadores da GDA e pode der acedido através desta hiperligação.
Após recolhidos, os dados serão remetidos à Unidade de Voz do CHLO, que avaliará os sintomas e, posteriormente, reencaminhará os casos graves para consultas ou rastreios. A equipa de Clara Capucho utilizará os resultados do questionário na elaboração de um estudo científico sobre os efeitos das máscaras anti-Covid-19 na voz dos artistas em Portugal.
Rastreio da voz no Hospital Egas Moniz
Paralelamente, a Fundação GDA e o CHLO promovem, nos dias 14 e 15 de abril, os rastreios da voz dirigidos à comunidade artística, mas também abertos a toda a população de forma gratuita. A iniciativa decorrerá na Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz entre as 9:00 e as 16:00.
Os artistas que queiram inscrever-se para o rastreio poderão fazê-lo, através deste formulário. A restante população deverá contactar a Unidade da Voz do CHLO. Todos os participantes no rastreio serão previamente convocados pelo Hospital Egas Moniz para realizarem o teste à Covid-19.
“Os rastreios servem precisamente para perceber se existe algum desconforto vocal e ajudar preservar a voz”, afirma Clara Capucho. “Estes atendimentos serão também ocasião para dar conselhos sobre os cuidados que os artistas deverão manter para preservarem uma boa saúde vocal, principalmente enquanto durar a obrigatoriedade de uso de máscara e houver confinamentos”.